segunda-feira, 18 de abril de 2016

ESPERANÇA E RESISTÊNCIA PELA DEMOCRACIA!

O dia de ontem, com certeza, não será facilmente esquecido por cada um(a) de nós brasileir@s, sobretudo quem se envolveu na luta. Das coisas mais simples como ser removido arbitrariamente de grupos de whatsapp até ouvir votos em homenagem ao período mais sombrio de nossa história, tivemos que passar. Se existe mais novos três poderes na política brasileira, ele se ratificou ontem na defesa do boi, da “bíblia” e da bala. Entretanto, da Praça da Leitura (Belém/PA), lugar onde também acontecia o acampamento do Movimento d@s Trabalhadores/as Rurais Sem Terra – MST, por ocasião dos 20 anos do Massacre de Eldorado dos Carajás (PA), acompanhamos firmes, nesta tarde chuvosa de domingo (17), as votações acerca do processo de abertura do impeachment à Presidenta Dilma Rousseff.

Referências ao agronegócio, à deus/família e à ditadura/violência vestiram suas oratórias num tom emotivo dedicado a familiares e amig@s, isto é, de quem estava mais próxim@ da sua conveniência. Estava nítido que muit@s queriam pousar de defensores/as da “moral e bons costumes” utilizando seus/suas entes querid@s (ou não!) para tal. Entre @s dedicações aos que foram, que estão e que viram, houve até quem, depois de ter votado, retornou ao microfone só pra retificar o agradecimento ao filho.

Neste espetáculo da fé e da politicagem, saudações à Renovação Carismática Católica (RCC) por Eros Biondini (PROS-MG) e à Igreja do Evangelho Quadrangular pelo pastor Josué Bengston (PTB-PA), deputado este com diversos processos tramitando no Supremo Tribunal Federal. Oportunistas “religiosos” (que não ajudam religar nada) pareciam cópias malfeitas dos sumos sacerdotes que outrora apoiaram o assassinato de Jesus, banalizando trechos bíblicos, como o capítulo 20, versículo 7 do Livro do Êxodo.

E d@s integrantes da “bancada do boi”, não faltou elogios ao agronegócio e as indústrias. Por um momento, poderíamos imaginar que algum(a) deles/as iria saudar os bovinos, mas destes animais, só lhes serve, o lucro financeiro. E por falar nisso, entre as opções de “conversas pra boi dormir” estiveram o cantor Sérgio Reis (PRB-SP), o Tiririca (PR-SP) e a versão carnavalesca de Janaína Paschoal na Câmara, menos desconhecido por Wladimir Costa (SD-PA) que numa rápida pesquisa no Google, dispensa mais detalhes aqui.

Já a bancada da bala, resolveu fazer de seus votos, uma homenagem ao militarismo, sobretudo à ditadura militar. Com gritos desnecessários, vimos Éder Mauro (SD-PA) esquecer por alguns instantes de seu processo no STF pra defender as crianças (#sqn). Alinhado, também tivemos uma das piores falas do plenário: Jair Bolsonaro (PSC-RJ), que mesmo estando no partido “social cristão”, mostrou uma postura antissocial e anticristã, fazendo referência ao coronel Brilhante Ustra, torturador durante a ditadura, num tom irônico à Dilma Rousseff, vítima da violência do militar.

Entretanto, mesmo com tantas decepções, muito importante foi a atuação de um grupo de parlamentares que ouso chamar “Bancada da Esperança” que no meio de tanta “hipocrisia junta por metro quadrado”, como disse a deputada Marcivânia (PCdoB-AP), não se deixou corromper ou intimidar por quem nem sabia ou tinha argumento pra justificar tamanho golpe. Zumbi dos Palmares, Dandara, Carlos Marighela, Olga Benário, os povos indígenas, quilombolas, camponeses/as, a reforma urbana e agrária, mártires e causas do povo, o resgate da história que alimenta a utopia.

Das lutadoras deste 17 de abril, difícil será esquecer de Jandira Feghali (PCdoB/RJ) que, com coragem, continuou a denunciar firme e objetivamente o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Michel Temer (PMDB-SP), vice-presidente da República. Não se intimidou ao citá-los e denunciar “corruptos, torturadores e traidores da pátria”, fortalecendo a fé e respeitando “os que estão usam o vermelho da luta e a bandeira do Brasil, do campo e da cidade que estão nas ruas, com muito sacrifício e convicção dizer: a luta apenas começou!”.

Entre outras que fizeram a vanguarda das mulheres pela democracia, destaca-se Maria do Rosário (PT/RS), Luíza Herundina (PSOL-SP), Benedita da Silva (PT-RJ), Luciana Santos (PCdoB-PE), Erika Kokay (PT-DF), Brunny Gomes (PR-MG) que preferiu o lado mais difícil por não ser covarde, entre outras protagonistas que mesmo não citadas, não deixam de ser sinal de resistência feminina no parlamento brasileiro.

Sob as falas odiosas e machistas, provocações pertinentes buscavam instigar @s que votaram sim, a justificar seu voto não por motivos destoantes do foco, mas o que se via era um rancor contra um partido, contra um ex e a atual presidente do Brasil. No paradoxo, voto coerente estava em muit@s parlamentares de oposição, sobretudo do PSOL que mesmo obstinando o executivo, manteve-se firme e não se deixou envenenar pelo oportunismo que outros foram levados.

Frente ao repúdio aos paraenses que votaram na admissibilidade, não pode ser negado o reconhecimento em defesa da democracia pelo Estado, através d@s deputad@s: Zé Geraldo (PT-PA), Simone Morgado (PMDB-PA), Lúcio Vale (PR-PA), Elcione Barbalho (PMDB-PA), Beto Faro (PT-PA) e Edilson Rodrigues (PSOL-PA) que negritou a posição do partido ao afirmar que “faz oposição de esquerda, programática e socialista ao governo e não conive com golpe”.

Jean Wyllys (PSOL-RJ), também merece nosso respeito e nossa solidariedade, pelo que deve viver todos os dias numa Casa impregnada de homofóbicos. Como primeiro homossexual assumido no parlamento, defendendo não apenas a cidadania LGBT, mas um conjunto de populações (jovens, negr@s, mulheres, indígenas, etc) excluídas e desfavorecidas das políticas públicas. O cuspe que deu após o seu voto no rosto do deputado nitidamente fascista, não chega nem perto dos 365 dias do ano que devas viver de discriminação por pessoas como ele.

“Faz escuro, mas eu canto”, diz o poeta amazonense Thiago de Mello. E é movido por essa esperança que tod@s que defendem um poder que emana realmente do povo, precisam permanecer firmes numa luta que segue agora para o Senado, mas que necessita também tomar as ruas todos os dias, como fermento na massa. Aos dirigentes do PT, a humildade de descer nas bases e retornar ao solo que pisa os sindicatos de trabalhadores/as e demais organizações dos movimentos sociais. Não tem como alcançar voos rumo ao horizonte, sem ter os pés firmes no chão. Sigamos firmes pela DEMOCRACIA! 

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