sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

CIDADE DE EMAÚS: ANTES QUE A VIOLÊNCIA EXPULSE A EDUCAÇÃO!

O clichê “de novo?” tem sido usado frequentemente por funcionári@s e alun@s da Cidade de Emaús. Ele é trivial quando corre a informação de mais um assalto realizado naquela escola, acompanhado das perguntas: “o que levaram dessa vez?” ou “quem foi roubado?”. Nesta manhã não foi diferente ouvir estas indagações, já que da noite soturna tudo podem esperar os agentes de portaria que permanecem neste local durante a madrugada. Claro que não é uma exclusividade deles, já que grande parte das ocorrências de furto tem acontecido durante o dia.

Estamos falando da unidade de ensino, que foi parar no Jornal Nacional por ter o menor Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) do País. Localizada no bairro do Benguí (Belém/PA), um dos mais vulneráveis ao empobrecimento social e a violência, ela era parte do Movimento República de Emaús, uma organização não-governamental que trabalha com crianças e adolescentes. Hoje esta ONG ainda que esteja perto fisicamente, encontra-se um pouco mais distante por questões estruturais, sendo assumida pela Secretaria Estadual de Educação (SEDUC).

O problema que esta unidade de ensino vem passando, não é de hoje e ainda não se consegue apontar respostas mais concretas em relação à violência que vem invadindo este estabelecimento. Há quem proponha um policiamento mais ostensivo ou a substituição dos porteiros por seguranças armados para trabalhar no local em horário integral. Há até quem pense que fechar a escola seja o caminho para dar um fim nesta situação. Aí vem a pergunta: o problema está nas pessoas ou no método de como vem sendo trabalhado a (in)segurança? Há envolvimento ativo da comunidade local ou simplesmente transforma-se este num assunto de polícia?

Antes de propor pessoas armadas dentro das escolas, é interessante consultar os dados do sistema de segurança pública para saber de onde são as armas utilizadas pela criminalidade. Depois é interessante procurar saber o papel desenvolvido por um porteiro e um segurança, para não equivocar-se pensando que um é doze e o outro é meia dúzia. Além disso, se o papel da escola é prover o desenvolvimento, no mínimo, seria absurdo retirá-la daquele lugar, ao invés de cobrar do Estado melhores condições neste ambiente, garantindo aquilo que é até constitucional.

O fato é que adotar medidas verticalizadas, não conseguirão de forma alguma combater um problema que a base conhece melhor que qualquer “agente externo”. Se a comunidade não estiver como principal parceira, podemos até querer fazer “unidades de polícia pacificadora” como no Rio de Janeiro, mas ainda serão imediatismos numa realidade onde o problema é estrutural. E uma escola que surgiu das lutas sociais, não pode de jeito nenhum perder sua essência, estando ele sob a responsabilidade da sociedade civil ou do poder público.
Que possamos acordar antes da tragédia de encontrar alguém “dormindo eternamente”, tendo sua vida ceifada pela violência neste ambiente escolar. Que a mídia continue ajudar a denunciar aquilo que se insiste invisibilizar, com o cuidado de não sencionalizar ainda mais a violência e divulgando boas práticas como caminhos possíveis. Que nosso foco seja a justiça e não a vingança, que seja a responsabilidade e não somente encontrar culpados. E ainda, que nosso compromisso seja com uma qualidade na educação, comprometida afetiva e efetivamente com o desenvolvimento integral dos adolescentes e jovens e na promoção da cultura da paz.

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