terça-feira, 30 de setembro de 2008

NO FESTEJO DE JARINA E ZÉ RAIMUNDO

"Eu vi mamãe Oxum na cachoeira, sentada na beira do rio,
colhendo lírio liruê, colhendo lírio liruá;
colhendo lírio pra enfeitar o seu congá!"
(Doutrina da Mamãe Oxum)

Neste último sábado, dia de Cosme e Damião, fui a um terreiro de umbanda para um festejo de Jarina e Zé Raimundo. Na companhia do colega Ray, de sua mãe conhecida como dona Mocinha, o sobrinho do Ray no qual não me lembro o nome e do Clayton. Ao chegarmos lá, ainda não havia começado, então, nos pusemos a conversar sobre alguns assuntos referente a umbanda e alguns fatos ligados ao assunto. Enquanto isso, os organizadores arrumavam o espaço do terreiro com frutas, velas e outros materiais que seriam utilizados naquela ocasião.

Um tempo depois, os filhos-de-santo, saíram da casa que estavam se arrumando e forma para o terreiro e iniciaram o ritual. Rezaram Pai Nosso e Ave-Maria e depois acompanhados de um pequeno sino (sacudido pelo dono do terreiro), um atabaque e outro instrumento que não me lembro o nome, começaram a entoar animadas canções.

No decorrer do festejo, confesso que fiquei com um pouco de medo, por conta de outras coisas que ocorreram alguns dias atrás. Mas isso não fez com que eu arrastasse o pé de lá, pelo contrário, me impulsionou a querer compreender melhor sobre esta expressão e respeitá-la um pouco mais. Fiz então o exercício de começar a perceber as expressões de vida dentro daquele rito.

A música que embalava as danças e que recebia os/as caboclos/as que chegavam, reafirmava algo que escutei a tempo atrás: “A música congrega”. Eram somente seis pessoas cantando dentro do terreiro, mas conseguia maravilhar os presentes, dando até vontade de dançar com eles/elas. Sem precisar de instrumentos modernos e de outros elementos da música moderna, mostravam que o verdadeiro querer cantar, vem através do coração. Quem canta por acaso ou pra mostrar-se, não encanta.

Depois, além dos festejados naquela noite, estavam presentes também outros caboclos e na medida em que chegavam, cantavam uma de suas doutrinas (acho que era pra se apresentar), depois iam arrumar-se e quando voltavam, cumprimentavam pessoa a pessoa com um forte aperto de mão e/ou um forte abraço. Foi aí que me dei conta de outro elemento interessante: a acolhida.

Um terceiro elemento interessante foi a partilha dos alimentos. Todas as pessoas presentes foram servidas e quando acabavam, se ainda não tinha se “saciado”, poderiam repetir. Uma comunhão que me faz lembrar o fato bíblico da multiplicação dos pães. Ao cortar a torta, D. Jarina chamava as pessoas para cortar junto com ela, as fatias, o que também tornou os/as presentes participantes de sua alegria.

Percebe-se através desta experiência que as manifestações afro-religiosas apresentam valores importantes para as nossas relações humanas. Acolher e partilhar são necessidades que ultimamente o capitalismo busca afastar de nosso meio. Assim como a liturgia católica, através do rito da celebração dominical quer ser um dia de missão a um compromisso a partir da semana que se inicia, o rito daqueles/as afro-religiosos da umbanda (ou não) poderia também ser um compromisso com o outro/a, acolhendo e partilhando, (en) cantando com novas canções nosso dia-a-dia.

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