quinta-feira, 25 de setembro de 2008

OS 20 ANOS DA PARÓQUIA RAINHA DA PAZ E A OPÇÃO PELOS POBRES

Depois de várias conferências episcopais, Aparecida vem confirmar que o caminho rumo a outro mundo possível, perpassa pelo compromisso com o empobrecido. “Fora dos pobres, não há salvação[1]”. A própria vivência de Cristo faz-nos perceber a necessidade de um comprometer-se solidário, não só afetivo, mas efetivo ao lado daqueles/as que têm o direito à vida negados.

Sabemos que o bairro do Benguí, situado na periferia de Belém, apresenta uma situação de extrema pobreza e miséria. O empobrecimento social que vai além das questões econômicas, interferem na vida da maioria da população. Dentro deste cenário, encontramos as Igrejas e outras manifestações religiosas, propondo modelos de vidas, a partir de sua ótica, doutrina e convicção daquilo que pensam a respeito de vida digna para todos e todas.

Este ano, a Paróquia Rainha da Paz entra na segunda década de sua existência na Arquidiocese de Belém, de forma particular, no bairro do Benguí. Realizando algumas atividades, na sua grande maioria, missas com a presença de outros padres de paróquias de nossa região episcopal, propõe reunir o povo para juntos celebrar os 20 anos desta caminhada. Nestes festejos, mais do que nunca, somos chamados a fazer memória do caminho de luta e história e de todos/as os protagonistas que por aí passaram fazendo a diferença.

Porém, alguns desafios da atualidade devem ser levados em conta para que outros anos sejam vividos de forma que celebremos a superação daquilo que hoje é dever nosso enquanto discípulos e missionários. Muitos de nós conhecemos o trecho do canto Pão de Igualdade, que diz: “No banquete da festa de uns poucos, só rico se sentou, nosso Deus fica ao lado dos pobres, colhendo o que sobrou”. Hoje, está a acontecer um jantar com um valor razoável para alguns/mas e para muitos/as é inacessível ou pode comprometer a despesa mensal. É complicado resumir esta atividade ao lucro, onde a realidade eclesial e social sente a necessidade de uma maior unidade e participação. Lembremos da narrativa bíblica em que os discípulos queriam despedir a multidão (Mt 14, 15). Jesus porém num contraste a atitude deles, pede para que eles reúnam o povo e vejam o que eles tem a repartir. No final, a multidão saiu saciada através da partilha (cf. Mt 14, 20). O que Cristo diria novamente a nós, quando alguns não pudessem partilhar da mesma alegria, celebrar a mesma festa, por não ter condições financeiras?

Uma história não se constrói de forma isolada e individualista. As demais organizações sociais que estão presentes hoje no bairro, também são importantes neste espaço de agradecimentos e celebrações. A comunhão também com estes nos fortalece e enriquece nosso celebrar, que não se resume somente a manifestações religiosas ou a atividades com propostas ousadas, sem o fio condutor, isto é, sem a vivência da prática do Evangelho. Imaginemos uma caminhada de mulheres que saem somente as ruas para dizer que estão sofrendo violência e se encerrar somente aí. Voltariam para a casa e sua realidade não mudaria e teria o risco até de agravar. É preciso se repensar na caminhada pela paz, para que não seja somente uma caminhada, mas uma atividade de cunho sócio-político-cultural, verdadeiramente ecumênico desde sua organização perpassando por sua realização e avaliação. Seria importante pensar uma liturgia verdadeiramente inclusiva para estes momentos fortes, ao invés de fatiá-los de forma com que cada um fique com uma parte e alguns peguem pedaços maiores que os outros.

Sabemos: a liturgia é fonte e cume de nossa vida cristã, como diz a Constituição sobre a Sagrada Liturgia (Sacrosantum Concilium). É nela que celebramos a Páscoa de Cristo na páscoa da gente. Portanto, deve ser pensada como algo que traga presente a vida de nossas comunidades, desde a introdução de um elemento do dia-a-dia destas até as canções que alimentaram e continuam a alimentar uma mística libertadora comprometida com os/as excluídos/as.

Entretanto, são nossas experiências passadas e presentes que nos guiam neste caminho de esperança.

Que possamos todos os dias fazer memória viva e presente de nossa história, como se “a primeira vez fosse a última chance”, olhando com cuidado “os sinais dos tempos”, lutando por “um novo céu e uma nova terra”, construído a partir do compromisso com os/as pobres e na mudança de sua realidade.
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[1] Título do livro de Jon Sobrino, teólogo da libertação.

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