terça-feira, 9 de abril de 2013

MEU NOME NÃO É AIDS

O jovem estudante Petterson Silva (16) é morador do município de Acará/PA, situado no nordeste do Estado. Em 2011 participou da capacitação e implantação do Grupo Gestor Municipal (GGM) do Projeto Saúde e Prevenção nas Escolas (SPE). Desde então, vem colaborando nas ações de prevenção às DST e combatendo o preconceito em decorrência do HIV/Aids. 

Neste mesmo ano, integrou a Rede Jovens + Pará, articulação estadual da Rede Nacional de Adolescentes e Jovens vivendo com HIV/Aids (RNAJVHA), que luta na promoção e defesa dos direitos humanos, com foco na saúde sexual e reprodutiva da população juvenil. Ele não vive com HIV, mas é um dos tantos jovens que hoje atuam com a RNAJVHA combatendo a discriminação a pessoas vítimas da Aids. 

Este mês o “ Gazeta do Vale”, jornal de circulação no Acará e em municípios vizinhos, publicou a matéria: “Preconceito é o principal problema para os portadores do HIV/Aids”. Junto às informações divulgadas, estava a foto de Petterson, justamente por ser um dos entrevistados sobre o assunto. Entretanto, após publicar a página com a notícia no facebook, começou a sofreu comentários de caráter preconceituoso. 

O título da matéria confirmou de forma antecipada aquilo que se comprovou em comentários , tanto na rede social, quanto em sua cidade. Porém, não é a primeira vez que Petterson tem recebido algumas censuras por se posicionar em defesa dos direitos humanos. Em algumas de suas postagens nas redes sociais se colocando contra a homofobia, também recebeu avacalhações. 

A grande questão é que esta atitude não se configura como um fato isolado ou até mesmo algo que vem para vitimar. A mesma situação ocorrida com Petterson é constante e em alguns lugares tem ocorrido de forma ainda mais violenta. Em São Paulo/SP, por exemplo, pai e filho foram confundidos com homossexuais e agredidos, sendo arrancada uma parte da orelha de um deles. Já em Camaçari/BA, um jovem também heterossexual foi brutalmente assassinado por está abraçando seu irmão. 

O fato é que não precisa ser soropositivo para também sofrer a discriminação das pessoas que vivem com HIV: basta assumir a luta contra a Aids para ser alvo de comentários estigmatizantes. Assim como o ser gay, lésbica, travesti ou transexual não é o único para ser vítima da homofobia, basta ter uma postura afetiva “diferente” da “normatividade”. Portanto, antes de fazer um discurso que limite a criminalização da homofobia somente a um direito de LGBT, vale lembrar que esta mesma violência vem atingindo também heterossexuais. 

Conforme a Declaração dos Direitos Fundamentais da Pessoa Portadora do Vírus da Aids¹: “ninguém tem o direito de restringir a liberdade ou os direitos das pessoas pelo único motivo de serem portadoras do HIV/aids”, “ninguém poderá fazer referência à doença de alguém, passada ou futura, ou ao resultado de seus testes para o HIV/aids, sem o consentimento da pessoa envolvida” e; “todo portador do vírus tem direito a comunicar apenas às pessoas que deseja seu estado de saúde e o resultado dos seus testes”. 

Infelizmente o compromisso com a vida nem sempre é visto com os olhos da solidariedade, onde a trave do preconceituoso insiste tapar. Porém, antes de qualquer afirmação equivocada ou atitude preconceituosa, vale lembrar que ninguém, a não ser a própria pessoa, tem o direito de revelar sua condição sorológica, seja ela qual for. E independente se positiva ao HIV ou não, merece ser respeitada em sua dignidade, independente de religião, orientação sexual, raça/etnia, etc. 

E antes que limitemos as pessoas simplesmente em um vírus, a reflexão do atual representante da RNAJVHA/Amazônia tem muito a nos ensinar: 

Logo que descobri fiquei amedrontado, sem saber ao certo do que se tratava. Foi um momento de muito transtorno, fiquei sem “chão”. Aquele foi um momento oportuno para que eu pudesse buscar informações a respeito do que é o vírus HIV. Depois de um tempo já conformado, o que mais me chocou foi saber e notar em tudo o que li e em todas as informações que captava, o que mais mata, é o preconceito que a sociedade impôs sobre as pessoas que vivem com HIV. Hoje eu tenho uma concepção de mundo, não tenho vergonha do que sou. Me chamo EFRAIM LISBOA e não Aids...


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¹ Confira em: www.aids.gov.br/pagina/direitos-fundamentais  (consulta realizada em 08 de abril de 2013).

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