No final dos anos 80, a Organização Mundial de Saúde (OMS) instituiu o 1º de dezembro como Dia Mundial de Combate a Aids. Em diversos países, ocorrem várias atividades alusivas como: campanhas de prevenção, testagens para o HIV, debates a cerca da qualidade de vida de pessoas soropositivas, etc.
Em 2012, o Ministério da Saúde investe na testagem para o HIV, sífilis e hepatites B e C, enquanto o movimento social denuncia o enfraquecimento da política de enfrentamento da epidemia de aids no Brasil.
Quando falamos do HIV, não estamos tratando somente de um vírus biológico, mas também social. Mais do que atacar as células de defesa, ele também contribui para a violência contra populações vulneráveis, na reprodução de olhares e práticas discriminatórias. Há discursos estigmatizantes, que também aumentam ainda mais o preconceito contra a juventude.
Na contramão das especulações e de notícias tendenciadas por algumas mídias, estão dados importantes que apontam os(as) jovens como as principais vítimas desta realidade. O fato é que a não efetivação das políticas públicas existentes e a ausência de específicas para/com a juventude, dificultam o seu desenvolvimento integral.
No serviço de saúde, a situação se agrava em muitas unidades/postos, que além de não acolher de forma humanizada, não oferecem nem o básico, o que acaba distanciando ainda mais a população juvenil, principalmente do sexo masculino. O acesso à prevenção de DST e à gravidez na adolescência e ao planejamento familiar, nem sempre são encontrados nestes espaços.
Ainda que a promoção da saúde seja um dos temas transversais nos Parâmetros Nacionais Curriculares (PNCs), nem sempre são garantidos. Em muitas unidades de ensino não existe o Projeto Saúde e Prevenção nas Escolas (SPE)[1], ou apresenta dificuldades na realização, sendo resumidos na disciplina de biologia ou apresentados de forma tendenciosa.. Além disso, há uma “invisibilidade” da aids no ambiente escolar e uma violência “velada” em decorrência dela.
Neste cenário também está presente desde 1999, a Pastoral da Aids. Este serviço “atua especificamente no campo das DST/HIV/Aids, procurando dar conta das questões que surgem nesta área e que colocam em relação a Igreja e epidemia que atinge o país em todas as suas regiões, desconhecendo limites de idade, sexo, condição social ou religiosa”[2].
Na Parábola do Bom Samaritano (Lc 10,25-37), somos convidados(as) a fazer duas reflexões: “de um lado, há uma proposta de leitura muito comum e aceita por todos que é procurar seguir a sugestão de Jesus no final do relato: ‘vá e faça a mesma coisa’... Ou, seja, Jesus convida a assumir o lugar do caído, pois só pode tornar-se próximo de alguém aquele que precisa .Somente quem experimenta na pele a dor do abandono, da marginalização pode deixar que se aproxime alguém que está fora do sistema , dos padrões estabelecidos. É preciso saber-se caído, pobre, para entender em sintonia com quem está a margem do caminho”[3].
Os bispos da América Latina e do Caribe, orientam: “consideramos de grande prioridade fomentar uma pastoral com pessoas que vivem com HIV/aids, em seu amplo contexto e em seus significados pastorais: que promova o acompanhamento integral, misericordioso e a defesa dos direitos das pessoas infectadas; que implemente a informação, promova a educação e a prevenção, com critérios éticos, principalmente entre as novas gerações, para que desperte a consciência de todos para o controle desta pandemia”[4].
Mas, onde está o meu grupo de jovens no meio de tudo isso? Como estamos trabalhando a prevenção e a acolhida de jovens vivendo com HIV? Afinal, "os grupos de jovens são um instrumento pedagógico de educação na fé. O pequeno grupo, como instrumento de evangelização, foi um dos instrumentos pedagógicos usados por Jesus ao convocar e formar seu grupo de doze apóstolos"[5].
O trabalho de base, além de promover a integração, possibilita também a “educação entre pares”, ou seja, jovem educando/evangelizando jovem. Porém, é preciso garantir um espaço mais de escuta e buscar, na medida do possível, utilizar as informações e experiências que trazem, para reforçar ou ajustar algum entendimento. Um espaço com verdades prontas, afirmações fechadas, tendem a inibir a participação destes(as) não só no grupo, mas no seu protagonismo juvenil.
O acesso a informação é muito importante para “que a saúde se difunda sobre a terra” (Eclo 38,8). A escolha dos materiais que serão utilizados (vídeos, textos, músicas...), assim como das pessoas quem vão ajudar, precisa ser feita com atenção. Procure saber a fonte dos subsídios e o envolvimento do facilitador(a)/assessor(a) acerca do assunto. Ficar atento(a) para não constranger, machucar... mas em acolher, informar, cuidar.
Já dizia a frase de uma campanha: “viver com aids é possível, com o preconceito não”. Por mais que haja populações vulneráveis, não é o contato com grupos específicos que determina a infecção ao HIV, mas comportamentos de risco. E antes de segregar alguém, é preciso não esquecer que “Deus não faz acepção de pessoas” (Rm 2,11).
É muito importante que os(as) jovens católicos(as) participarem no enfrentamento da juvenização da aids, na desconstrução de mitos relacionados à prevenção e à vhivência. É promover a solidariedade, “para que todos tenham vida em abundância” (Jo 10,10).
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[1] O Projeto Saúde e Prevenção nas Escolas (SPE) tem como objetivo reduzir a vulnerabilidade de adolescentes e jovens às doenças sexualmente transmissíveis (DST), À infecção pelo HIV, à aids e a gravidez não planejada, por meio de ações no âmbito das escolas e unidades de saúde.
[2] Guia do Agente de Pastoral da Aids – Porto Alegre, RS: Pastoral DST/Aids – CNBB, 2005. p. 20.
[3] Idem. p. 62.
[4] Documento de Aparecida, n. 421. Texto Conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe (CELAM - 2007).
[5] Evangelização da Juventude: desafios e perspectivas pastorais, n. 151 - CNBB, 2007/Doc. 85
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