quarta-feira, 25 de abril de 2012

UM SHOPPING NA PERIFERIA?

Hoje (25) inaugura o mais novo espaço de compras e entretenimento de Belém/PA, o tão esperado “Parque Shopping”. Localizado na Augusto Montenegro, a obra vem encantando moradores das margens da rodovia que diariamente passam e vislumbram a beleza que está ficando o prédio que abrigará esta mais nova oportunidade de consumo na Metrópole da Amazônia. Falando nisso, onde mesmo fica este shopping?

Sua localização encontra-se ao lado de uma faculdade e a entrada do Benguí, cujo bairro é conhecido historicamente não só pelo alto índice de violência, como por sua resistência nas lutas sociais. Prova disso é a conquista de transporte e as mobilizações por melhores condições de saúde pública para a população deste lugar. Além disso, quem o conhece, sabe o quanto ele é rico de manifestações culturais como toada, quadrilha, carimbó, capoeira dentre outros, além das diversas igrejas e escolas que contribuem na formação de crianças, adolescentes e jovens deste bairro.

Mas, o que aparenta é o quanto isto não está sendo levado em consideração, em relação a responsabilidade social. Aliás, este termo vem mais como adjetivo do que substantivo, como diria Leonardo Boff em um de seus artigos sobre sustentabilidade. Se bem que a (in)gestão atual da Prefeitura de Belém fez questão de esquartejar o Benguí, tornando bairro as comunidades do Parque Verde e Mangueirão. Poderim até parafrasear os mesmos que queriam dividir o (povo do) Pará: “mas, a divisão é para melhorar a situação”. Neste bairro, melhorou em que? Até onde sei, os serviços básicos de saúde, educação e segurança, por exemplo, ainda se encontram no Benguí.

Não adianta tapar o sol com a peneira sob esta estratégia frustrada de reduzir o empobrecimento social, mudando nome de rua e de bairro. Ninguém é besta para acreditar que isto nada mais é que uma segregação da classe desfavorecida, em “guetos” (como estão fazendo com o popularmente conhecido Bengola), para uma nova roupagem de um lugar discriminado.

Que tal perguntar para a vizinhança qual o endereço do shopping, da faculdade, do curso de idiomas e dos demais prédios adjacentes? Uníssonos irão responder que nada mais é do que o Benguí, mas que agora possuem outro nome. Nada contra estas comunidades, até porque elas também sofrem com este desrespeito, todavia esta estratégia separatista não só visa enfraquecer as organizações sociais que têm atuação nesta área, consequentemente fragmentando e fragilizando a organização de tais comunidades. 

Claro que o shopping irá facilitar uma série de coisas, como a proximidade com diversas lojas que se encontravam somente no centro da cidade, mas isto não impede refletir sobre os impactos socioculturais, políticos e ambientais que este provoca e que recebe pouca atenção merecida. O rápido silenciar da mídia a cerca de algumas mortes em torno disto como a do jovem Jackson Rodrigues, 24 anos, vítima de acidente de moto na avenida lateral ao shopping ou do operário Nilson Lima, de 38 anos, eletrocutado durante a realização de um serviço na obra, não deixa menos indignados(as). Podem até arrancar a placa de boas vindas que ficava na frente do Benguí, não arrancarão jamais a história e a cultura deste bairro é negar a identidade de seu povo.

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