quinta-feira, 13 de março de 2008

RETRATOS DA PERIFERIA

ABRINDO O ÁLBUM:
Anteontem estava eu na pastoral familiar (essa é uma expressão cômica que aprendi com a tia Ray do setor de liturgia da CNBB/N2, quando quero me referir às atividades que faço em casa), quando escutei um estranho barulho vindo da rua que fica atrás de minha casa. Logo, a curiosidade bateu e junto com a procissão que rumou para lá, fui eu procurar saber logo imaginando que um acidente de moto teria acontecido. Dito e acontecido! No chão, ao lado do córrego estava dois rapazes caídos, ralados e ensangüentados. Na pista, uma viatura da polícia militar e alguns policiais com armas apontadas na direção dos dois feridos.
Logo, surgiram as várias interpretações para aquela cena, confirmando o que Leonardo Boff já dizia: "cada ponto de vista, é a vista de um ponto!". De cada ângulo um olhar e um comentário diferente. Um quebra cabeça de suposições, que se juntava formando a reportagem que logo depois rolaria as ruas do bairro. Afinal, uma periferia que se preze, faz sua própria reportagem.Os policiais começaram a revistá-los, encontrando com eles um aparelho celular. Para surpresa de alguns, uma senhora chega e entrega um saco de dinheiro aos policiais.
Em seguida, chega mais uma viatura com aquele barulho de abafar conversa. Acompanhando, chega um casal onde a matéria popular logo é fechada: o casal que acabara de chegar foi vítima dos dois que tinham sido jogados pela viatura e que permaneciam no chão. Logo chega mais uma viatura. Essa parece trazer alguém superior aos demais policiais (parece que o nome é capitão). Este com um tom ditatorial e agressor disse: "Era pra meter bala nesses bandidos!". Mandou colocar os acusados dentro daquele cubículo que fica atrás da viatura, mas antes de entrarem disse para a vítima dar um soco neles. E num instante, a multidão foi-se dispersando, as viaturas saindo, e o dia continuando. O destino do saco de dinheiro, ninguém sabe...
FOTO 3x4

No outro dia, seguia eu pra CNBB, naqueles ônibus caixinha de surpresa. Na esquina da Júlio César com a Almirante Barroso, meu olhar estagna assim como os veículos na minha paralela. A direção dos meus olhos vão em um garoto de aproximadamente 8 anos de idade, segurando uma folha de papel A4 escrito que seu pai havia sofrido um acidente e não tinha dinheiro pra comprar o remédio de R$ 138,00 e estava ali pedindo ajuda. Ousado ia em cada veículo, peliculado ou não ele parava por uns 15 segundos. Até o momento em que o ônibus que eu estava seguiu a avenida, não recebeu nenhuma moeda, e nem um "Deus te abençõe!"...

AUTO RETRATO

Como se não bastasse, agora foi a nossa vez. Semana passada a polícia civil deu uma "batida" aproximadamente às 23:30 na casa do vizinho que fica frente a que moramos. Conversaram com o jovem que ali mora. Após a saída dos policiais dali, quando já estávamos deitados, nosso telhado foi vítima de apedrejamento por duas vezes durante aquela noite. O motivo supostamente sabemos. A solução, quem sabe?

Continuando o calvário, soubemos esta manhã que minha mãe está supostamente ameaçada de morte. O motivo, temo até em colocar aqui, até porque não temos provas concretas. Espero que seja somente boato...

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