Mais do que responder aos ataques violentos de quem não dialoga, é negritar a verdade daquilo que se vive em diversas comunidades eclesiais pelo Brasil. Assim, retornamos ao poço, lugar de encontro de Jesus e a Samaritana, para conversar um pouco sobre a Pastoral da Juventude (PJ), organização de jovens ligada a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB.
Entre os dias 07 e 14 de janeiro de 2018, aconteceu uma das mais importantes atividades históricas da Igreja no Brasil e na América Latina: o Encontro Nacional da Pastoral da Juventude - ENPJ. Em sua 12ª edição, aproximadamente 500 participantes entre jovens, diáconos, padres, freiras, bispos e convidadas/os de outras igrejas cristãs e religiões armaram sua tenda novamente na Amazônia, mais precisamente em Rio Branco/AC, para refletir o tema “Txai: da Seiva da Vida, a Festa do Bem Viver” a partir da iluminação bíblica “Sou Eu que estou falando com você” do Evangelho de João 4,26. Reflexão, oração, celebrações, missão, romaria e outras atividades, fizeram do evento um marco na capital do Acre.
Foto: Larissa Oliveira | Fonte: Site da PJ Nacional
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Não é novidade a perseguição violenta que se intensifica após os ENPJ, nem mesmo no anterior onde o Papa Francisco enviou uma carta à PJ por ocasião deste encontro. Aliás, a existência desta organização tem incomodado há muito tempo o interesse de conservadores e oportunistas que buscam concentrar o poder na mão de uns poucos, com a opressão de muitas/os. Por isso, a inspiração da Pastoral da Juventude encontra-se no Evangelho de Lucas 4,18-20: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção, para anunciar a boa Notícia aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos e para proclamar um ano de graça do Senhor”. Este mesmo trecho proclamado por Jesus, encontra-se no Livro de Isaías 61, revelando o sentido profético e ministerial da missão de Jesus que a PJ assume com coragem e alegria.
Nenhuma organização eclesial se mantêm viva sem espiritualidade, assim também a Pastoral da Juventude vive inspirada no amor de Deus que brota no coração das/os jovens. Na Celebração Eucarística, no Ofício Divino, na Lectio Divina (Leitura Orante da Bíblia), Romarias e outras vivências, a PJ cultiva uma mística encarnada na realidade, sobretudo das/os empobrecidas/as. Na circularidade, entoando músicas como “Pão de Igualdade”, “Nego Nagô”, “Nova Geração”, “O mesmo rosto”, rezando os salmos e demais orações da tradição cristã, partilhando o Pão e a Palavra, bebemos de uma água que cada vez mais sacia nossa sede.
Os grupos de base da PJ são poços onde o encontro com a/o excluída/o acontece, derrubando as barreiras sociais, sexistas, culturais, raciais, étnicas e religiosas. São centenas deles espalhados Brasil afora, transformando a vida de milhares de jovens em suas comunidades. Quantas/os destas/es não foram libertas/os da discriminação por encontrarem na PJ um espaço de acolhida e solidariedade? Quantas/os destas/es não saíram antes das estatísticas de suicídio e homicídio pela ação evangelizadora da PJ com elas/es? Quantas/os destas/es não estão desenvolvendo um excelente trabalho na Igreja e na sociedade graças a formação integral que a PJ desenvolve(u) com estas/es?
Não estamos falando com isso que a PJ é o único caminho, mas é uma das pastorais que tem sido terra fértil onde a semente-juventude tem brotado e gerado bons frutos (Sl. 64). Ela necessita sim de críticas (desde que construtivas) para que continue sendo a histórica novidade que faz com que as/os jovens não sejam apenas massa de manobra na mão dos poderosos, mas fermento na massa que contribui desde as decisões de sua comunidade até os rumos do país e do mundo. Desde os conselhos comunitários até as amplas instâncias políticas e eclesiais, a PJ tem sido referência por sua capacidade de diálogo e participação propositiva, sobretudo nas pautas direcionadas à juventude.
Na Pastoral da Juventude, as/os jovens são protagonistas que, inspiradas/os pelo Evangelho de Jesus Cristo, anunciam a boa notícia aos pobres, ou seja, apontam a justiça e a solidariedade como caminho de libertação que nasce da organização eclesial e popular, nos pequenos grupos e comunidades em defesa da vida das/os excluídas/os (negras/os, indígenas, mulheres, etc.). Na PJ, os grandes encontros não são apenas e-ventos, mas parte de um Processo de Educação na Fé, ou seja, um caminho pedagógico que nasce nas bases e desagua nas atividades massivas como os Encontros e Ampliadas que congregam mentes e corações, conscientes e apaixonadas/os de seu compromisso com o Reino.
Óbvio que, como em qualquer coletivo juvenil, nem todas/os as/os jovens que fazem essa experiência, permanecem firmes na PJ, mas nem por isso ela perde sua razão de existir. E que bom que temos outras expressões de juventude na Igreja e na sociedade (JUFRA, Magis, AJS, GEN, etc.) que têm sido sinal de esperança para esse público que vive e quer viver. Afinal, ser católico também é isto: viver na universalidade, respeitando a diversidade para que todas/os sejam um (Jo 17,21).
A possibilidade de dialogar com outras expressões de fé e conhecimento não nos faz menos católicas/os. “Estas diferenças fazem parte do plano de Deus que quer que cada um receba de outrem aquilo que precisa e que os dispõem de ‘talentos’ particulares, comuniquem os seus benefícios aos que deles precisam. As diferenças estimulam e muitas vezes obrigam as pessoas à magnanimidade, à benevolência e à partilha: e incitam as culturas a enriquecerem-se umas às outras” (Catecismo da Igreja Católica, 1937).
“Toda a espécie de discriminação relativamente aos direitos fundamentais da pessoa, quer por razão do sexo, quer da raça, cor, condição social, língua ou religião, deve ser ultrapassada e eliminada como contrária aos desígnios de Deus” (Concílio Vaticano II, Constituição Pastoral Gaudium Et Spes, 29: AAS 58 [1966]1048-1049). Portanto, num país que a cada seis horas uma mulher é assassinada por um homem de suas relações íntimas, a Campanha Nacional de Enfrentamento aos Ciclos de Violência Contra a Mulher é uma necessidade evangélica assumida pela Pastoral da Juventude para que todas/os tenham vida em abundância. É uma ação que resignifica a masculinidade e reforça o profetismo das mulheres que juntas com Maria entoam o Magnificat (Lc. 1,46-56).
Não é tempo de ficar triste ou com medo do que alguns tentam ameaçar, pois ser perseguida/o também faz parte da/o vida do cristã/o e da história da Igreja. É momento de se alegrar com o que a Pastoral da Juventude tem feito, sobretudo na formação integral de jovens e no combate a violação de seus direitos. Não desanime se há quem duvide ainda da catolicidade da PJ, sobretudo de quem não viveu esta experiência ou não compreendeu sua proposta, pois o mais importante não é tanto o que se especula ou deturpa, mas o que de fato acontece em cada encontro semanal dos grupos de base, em cada ENPJ ou ANPJ, em cada celebração ou caminhada, em cada participação social nos conselhos e conferências, em cada missão jovem urbana ou rural, em cada passeio e festa... em todo canto que estiver uma PJoteira ou PJoteiro, ali estará um/a jovem católica/o consciente e atuante em sua missão!