sábado, 26 de janeiro de 2013

JUVENTUDE DO BENGUÍ: ENTRE O EXTERMÍNIO E A ESPERANÇA


         E o primeiro mês do ano, infelizmente foi o último para mais um jovem no bairro do Benguí (Belém/PA). Ivanilson Favacho de 22 anos, alvejado por vários tiros, foi assassinado na manhã de anteontem (25), por volta das 11h da manhã.
        
         Sábado passado (19), foi o último dia que o encontrei junto a outras pessoas que em sua companhia partiam rumo às quadras (um ponto de encontro que reúne a galera durante a noite no bairro). Passou com aquele jeito simples de todas as vezes que o encontrava desde quando o conheci, mas estava um pouco distante e olhando para outro rumo, que não nos saudamos como cordialmente ele sempre fazia.

         Fez parte de um grupo sociopolítico de jovens e do Agente Jovem. Havia somente uma passagem pela polícia por porte ilegal de arma, conforme informações de Renato Wanghon, delegado da DEPOL do Benguí. Atualmente, buscava alternativa de sobrevivência na venda de churrasco que colocou frente a sua casa.
        
         Há que considere isto como o resultado de uma passagem pela criminalidade. Eu particularmente considero além disso, aliado a um processo que a juventude que vive principalmente na periferia tem sofrido em Belém e que tem colocado o Pará no ranking dos Estados mais violentos do país.

         Não vou debruçar-me numa análise sobre a questão da violência que vem exterminando todos os dias a população juvenil de nossas baixadas e das demais comunidades populares. Quero compartilhar o texto que um jovem escreveu por ocasião do assassinato de Ivanilson e que me chamou bastante atenção. Segue:
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O QUE É A VIDA EM SI?
Um ciclo natural, onde conhecemos pessoas que de um dia para o outro se tornam essenciais em nossa vida, algumas nos machuca, outras nos fazem feliz, e no final todas nos ensinam a vivermos sem elas, é doloroso, complicado. Mas fazer o que, se a vida e assim, se viemos a esse mundo, sabendo que um dia partiremos. Um dia desejamos boa noite para um conhecido, e no outro, já não o vemos mais. Triste realidade, o que torna tudo isso tão doloroso, é o modo ao qual, as pessoas estão partindo, tão prematuramente. Sem se quer deixar nesse mundo, a sua semente.

Até quando as pessoas estarão contribuindo para o fim do mundo, qual o prazer de tirar uma vida, qual a sensação de voltar pra casa, ver todos felizes, enquanto em outra casa, a tristeza predomina, por conta de um ato por você cometido? 


Está sendo constrangedor, viver nesse mundo, onde as pessoas se sentem melhores que as outras por tirar a vida. Já pensei em mudar de bairro, mas não adiantaria. Já não gosto de assistir jornais, por conta das mortes que aparecem, diariamente , Até quando, estaremos vivendo em um purgatório, sofrendo pelos outros, e as vezes por nós mesmo. Por enquanto fico apenas na esperança de ver, as pessoas mudando, sendo educadas, carinhosas uma com as outras, espero que eu ainda esteja nesse plano, para poder viver tudo isso.
Marrony Lima – 19 anos
Estudante de escola pública, cursando o 2º ano.

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         O jovem que também conhecia a vítima, diz que o principal motivo que lhe levou a compartilhar estas palavras no facebook foi indignação. “Eu não gosto nem um pouco de ver pessoas sendo mortas”, comenta. Para ele, esta situação não deve ser encarada com naturalidade. “Eu não acho normal nenhum assassinato” acrescenta.

         Cabe a nós uma leitura desprendida de estereótipos e saudosismos, definições e pressupostos pré-estabelecidos onde se procura somente aquilo que se quer escutar. A mudança virá quando convertermo-nos a juventude, crendo no seu protagonismo, estimulando sua autonomia e investindo em sua capacidade transformadora. Busquemos este caminho que os demais virão por acréscimo...

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