“Vós, jovens, não sois apenas o futuro da Igreja e da humanidade, como uma espécie de fuga do presente. Pelo contrário: vós sois o presente jovem da Igreja e da humanidade. Sois seu rosto jovem. A Igreja precisa de vós, como jovens, para manifestar ao mundo o rosto de Jesus Cristo, que se desenha na comunidade cristã. Sem o rosto jovem a Igreja se apresentaria desfigurada [1]”.
Em 2013, além da Jornada Mundial da Juventude, acontecerá no Brasil a Campanha da Fraternidade com o tema: “Fraternidade e Juventude” e lema “Eis-me aqui, envia-me!” (Is 6,8). Com o PROTAGONISMO dos(as) jovens na mobilização e coleta de assinaturas em todo país, retomaremos a reflexão sobre este tema na quaresma [2]. Mas, o que realmente é Protagonismo Juvenil e como ele está sendo motivado dentro da Igreja no Brasil?
Protagonismo é uma palavra de origem latina: “protos” (principal, primeiro) e “agonistes” (lutador, competidor). Na dramaturgia, o termo é utilizado para identificar o(a) personagem em destaque. Em linhas gerais, podemos afirmar que protagonismo é sinônimo de participação ativa no desenvolvimento de ações em vista do bem comum. Num contexto eclesial, o(a) jovem é chamado a ser protagonista, presença construtiva e solidária na ação evangelizadora. Como? Sendo responsáveis na missão de evangelizar/cuidar de outros(as) jovens, construindo com isso a “Civilização do Amor”. Porém, é um “converter-se ao novo” que deve ser assumido por todos(as).
Durante os anos 60, os grupos da Ação Católica Especializada (JAC – Juventude Agrária Católica; JEC – Juventude Estudantil Católica; JIC – Juventude Independente Católica; JOC – Juventude Operária Católica e; JUC – Juventude Universitária Católica), moveram diversos(as) jovens para um compromisso social, à luz da fé. Nos discursos e documentos da Igreja, a juventude vem sendo destaque, seja pela vulnerabilidade social, seja pelo reconhecimento de suas potencialidades. “Representam um enorme potencial para o presente e o futuro da Igreja e de nossos povos, como discípulos e missionários do Senhor Jesus”[3]. E em sintonia com o episcopado latino-americano, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil renovaram sua opção afetiva e efetiva pelos(as) jovens[4].
Quando se relaciona o protagonismo aos jovens, vemos as diversas possibilidades de incitar a sua participação na comunidade. Porém, este movimento não deve perder de vista o seu desenvolvimento integral e o processo de amadurecimento na fé. Para isso, a CNBB lançou o documento “Evangelização da Juventude: desafios e perspectivas pastorais” que orienta este trabalho. Além de uma análise sobre a realidade dos(as) jovens, apresenta com resposta algumas pistas de ações.
Muito tem a contribuir a experiência acumulada da Pastoral da Juventude nisto. “Com base no projeto e na pessoa de Jesus Cristo ter o jovem como protagonista e agente libertador, tornando-o sujeito na história, de acordo com seu meio”[5]. Quem coordena os(as) grupos de base na PJ são os(as) próprios(as) jovens, reconhecendo sua capacidade de articulação. Além disso, orienta-se que todas as instâncias de coordenação e de representatividade da PJ sejam ocupadas pelos(as) próprios jovens. A figura do(a)a assessor(a), nesse sentido, é acompanhar os passos e contribuir na autonomia, sem determinar ou assumir essa função da coordenação.
Os grupos de base são semeaduras de jovens protagonistas para os diversos trabalhos que a PJ hoje assume na Igreja e na sociedade. Neste sentido, as atividades assumidas em nível local e nas diversas instancias de organização. As atividades permanentes (Semana da Cidadania, Semana do Estudante e Dia Nacional da Juventude) são expressões deste protagonismo. A presença dos(as) jovens nos espaços de incidência política, também tem sido um grande diferencial nesta organização. Além de ser a mais expressiva representação católica nas Conferências de Juventude, é a representante dos segmentos religiosos no CONJUVE[6].
Porém, o que parece uma oportunidade em alguns lugares, em outros soa como uma ameaça, impedindo não só o crescimento de mais um(a) jovem leigo(a), mas de toda uma comunidade. O “adultocentrismo” e os obstáculos estruturais tendem a impedir a maturidade e a autonomia, comprometendo seu ministério. “É pecado querer ser evangelizador de jovens e não acreditar no protagonismo juvenil; não ter presente isso nos valores para os quais se convida o jovem a se engajarem, não é ser verdadeiro nem libertador”[7]. O grande desafio neste sentido está estreitar o dialogar com o clero e demais lideranças sobre as possíveis contribuições do protagonismo juvenil para o crescimento da comunidade, de forma que o investimento e o acompanhamento neste(a) jovem favoreça uma maturidade pastoral e pessoal.
A garantia do protagonismo juvenil se dará na medida que vamos nos abrindo a novidade e reconhecendo nela a manifestação do Divino. Antes de lhe olhar somente como um depósito de informações, é preciso perceber a revelação de Deus no rosto do(a) jovem. Atento aos sinais dos tempos vamos fortalecendo um protagonismo que não seja somente assistencialista, dependente ou mero reprodutor de idéias soltas e sem fundamento, mas que seja transformador. Este agir consciente os tornará ainda mais atuantes, reconhecidos(as) no meio eclesial e social, para que ninguém o(a) despreze por ser jovem (2Tm 4, 12).
PARA REFLETIR EM GRUPO:
- Minha Paróquia/comunidade estimula o protagonismo juvenil? De que forma?
- Quais as dificuldades enfrentadas pelo grupo para o protagonismo dos(as) jovens?
- Além do protagonismo eclesial, como nosso grupo pode ter uma participação ativa dentro das mobilizações sociais?
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[1] Discurso do Papa Bento XVI no Encontro com a Juventude no Estádio Pacaembu. (Brasil, 2007)
[2] Em 1992, a Campanha da Fraternidade teve como lema “Juventude, caminho aberto”.
[3] Documento de Aparecida, n. 443. Texto Conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe (CELAM - 2007).
[4] Confira em Evangelização da Juventude: desafios e perspectivas pastorais, n. 04 (CNBB, 2007/Doc. 85).
[5] Princípios da Pastoral da Juventude em “Pastoral da Juventude: um jeito de ser e fazer - SOMOS IGREJA JOVEM” (PJ, Brasília/DF - 2012).
[6] CONJUVE - Conselho Nacional da Juventude tem entre suas atribuições, a de formular e propor diretrizes voltadas para as políticas públicas de juventude, desenvolver estudos e pesquisas sobre a realidade socioeconômica dos jovens e promover o intercâmbio entre as organizações juvenis nacionais e internacionais. (http://www.juventude.gov.br/conselho)
[7] DICK, Hilário. “Protagonismo” em O Divino no Jovem: elementos teologais para a evangelização da cultura juvenil. Porto Alegre: Instituto de Pastoral de Juventude: Rede Brasileira de Centros e Institutos de Juventude, 2004.
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